segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ela sentia culpa


   Sentia-se culpada.
   Sentia-se culpada por ser diferente. Culpada por achar que não merecia o que tinha.
   Sentia-se culpada por ser elogiada. Culpada pela tristeza repentina. Pelas atitudes erradas, palavras mal-faladas.
   Culpada pelo cansaço físico, pelas crises de choro, pelos momentos em que queria ficar só, pelos problemas que poderia causar a alguém, pelos gastos que demandaria se ficasse doente. Culpada por se achar pior que os outros, por pensar que sua fé não era suficiente.
   Pela insegurança, pelo desânimo, pelo nervosismo, pelo passado, pelo mau humor alheio, por não agradar, por dizer sim quando queria dizer não.
   Culpada por sentir culpa.
   Então ela aprendeu que tanta culpa só pesava e atrasava sua vida. Não havia mais espaço e muito menos necessidade delas.
  
   Ela aprendeu que as pessoas não são iguais. Então ela podia ser diferente.
   Merecia o que tinha? Se Deus permitiu que ela tivesse, então por que pensaria o contrário.
   Aprendeu que ser bonita é diferente de sentir-se bonita. Poderia se olhar no espelho e achar que estava péssima ou maravilhosa. Importante sim, era o que ela achava. Os elogios seriam bem-vindos ao ego, mas algum descartaria pela indelicadeza.
   Aprendeu que a vida não é um mar de rosas. Ela tinha o direito de ficar triste de vez em quando e até chorar. Falar umas bobagens. Não era perfeita, então cometeria erros. Algumas atitudes impensadas sim, mas não remoeria a noite toda: __ Por que o leite derramou?__ Já derramou mesmo. Amanhã seria outro dia.
   Aprendeu que precisava de alguns momentos de solidão. Haveria dias mais desgastantes em que nem atenderia o interfone por um pouco de privacidade.
   Aprendeu que as pessoas que a amam, querem o melhor pra ela, incluindo despesas médicas e etc. Ela tinha consciência que fazia sua parte.
   Descobriu que não dependia só da sua fé, dependia também do tempo de Deus.
   Tinha medo de dormir e de multidões, mas já superara medos maiores. Tinha seus dias irritadiços e avisaria antes, porque ninguém precisaria ‘pagar o pato’.
   O futuro pertence a Deus. Viveria um dia de cada vez. O passado foi difícil, mas aprendeu muito com ele.
   Se alguém próximo dela demonstrava impaciência e nervosismo perguntava: __ Tem algo errado? Está tudo bem?__ O mundo não girava ao seu redor. Todos tinham problemas e ajudaria se possível.
   Ela era assim e seria melhor a cada dia, mas não agradaria a todos.
   Aprendeu a se respeitar mais e considerar bem antes de dizer um sim.
   Quanto às culpas, elas não existiam para acúmulo e sim para encarar.
   Aprendeu a pedir desculpas pelos seus erros e a não assumir erros que não eram seus.
   “Construímos certas culpas com o intuito de nos punir por uma coisa que não somos condenadas por ninguém a não ser por nós mesmos.” G.G.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe suas dúvidas e comentários: